19 Mai 2023
O trabalho de doutorado da professora Keciane Mesquita das Chagas Santos, do Campus IFMA Centro Histórico (São Luís), resultou na concessão de patente para a Universidade Federal de Alagoas (UFAL), onde concluiu o programa no Laboratório de Pesquisa em Recursos Naturais (LPqRN). Trata-se de uma tecnologia voltada para a solução de um problema de praga enfrentado por produtores rurais, baseada na composição de um feromônio sexual produzido para o monitoramento e controle comportamental das populações de adultos da espécie popularmente conhecida como “lagarta desfolhadora” ou “lagarta verde do coqueiro”. A formulação se destaca como uma alternativa de controle no Manejo Integrado de Pragas (MIP), e pelo avanço na identificação dos compostos que mediam a comunicação do inseto na área da ecologia química.
Concedida no último mês de abril pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a patente “Monitoramento e controle comportamental com feromônio sexual da praga desfolhadora, Opsiphanes invirae Hubner, 1808 (Lepidoptera: Nymphalidae)” (protocolada sob número BR 10 2018 000784 0) se originou do projeto aprovado no Programa de Doutorado em Biotecnologia – Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO), defendido em julho de 2018, e tem ainda como participantes do desenvolvimento do invento: professores Antônio Euzébio Goulart Santana e Gaus Silvestre de Andrade Lima (orientadores da pesquisa), bem como os pesquisadores Henrique Fonseca Goulart, Merybeth Fernandez Triana, Jakeline Maria Dos Santos, Isis Torres Souza, Ricardo Salles Tinôco, Paulo Manoel Pontes Lins e Mariana Oliveira Breda. A pesquisadora informou que a investigação foi realizada nas fazendas Sococo (de coqueiros) e Agropalma (dendezeiro), ambas no Estado do Pará.
(Na fase de lagarta, essa borboleta ataca as folhas de palmeiras arecáceas, e feromônio sintetizado foi eficaz na atratividade dos adultos desta espécie em campo)
O INPI é o órgão federal responsável pelo registro e concessão de títulos de propriedade industrial, sendo vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. No resumo apresentado na base de dados da instituição relacionada a patentes, considera-se que, “no experimento em campo, o uso desta invenção mostrou ser um produto promissor para a captura dos insetos adultos de O. invirae. Assim, esta invenção também faz referência ao método de controle desta praga com uso da formulação, objeto desta invenção. Em virtude de futuras necessidades, esta invenção pode estender-se a outras culturas e regiões afetadas por este inseto-praga”.
“A patente e registro junto ao INPI e demais órgãos competentes abrem uma nova perspectiva para as pesquisas desenvolvidas por professores, alunos e pesquisadores, sendo um passo importante para fazer uma conexão com o mercado”, disse Keciane Mesquita, observando que a patente garante os direitos de exploração, com grande relevância econômica, científica e tecnológica. De acordo com ela, o diferencial do potencial econômico pode fomentar mais investimentos para a pesquisa e a inovação, e gerar um ambiente de parceria entre as instituições de ensino e a indústria.
Referindo-se à área acadêmica, a pesquisadora considerou que a patente representa a consolidação de todo o esforço de conjunto de pesquisa, testes de hipóteses, interpretação de resultados, ensaios em campo e a grande quantidade de recursos dedicados para colher os produtos da efetiva aplicação prática. “É nessa hora que conseguimos concatenar as diversas informações e traduzimos em uma aplicação efetiva passível de industrialização. Assim, a patente representa a possibilidade de materialização dos resultados da pesquisa acadêmica para a sociedade”, explicou a docente, ressaltando que, com isso, o conhecimento nacional fica protegido e a nação detentora da patente tem uma vantagem estratégica e tecnológica para a industrialização do invento.
No entanto, Keciane Mesquita observa que a concessão de patente é apenas uma parte do processo de inovação, pois somente estabelece o direito de exploração, mas não apresenta garantia de que haverá aplicação comercial. Nesse sentido, a pesquisadora aponta para o desafio de fazer o invento chegar ao mercado, devendo-se levar em conta os acordos comerciais e todo o processo de industrialização e logística. “Além de proteger o conhecimento inovador, é importante assegurar também a cadeia produtiva do invento e sua comercialização”, disse ela, ponderando que as instituições de ensino e universidades não fazem parte do conjunto de indústrias, sendo necessário firmar contratos que possibilitem a utilização do licenciamento da tecnologia, com parcerias que viabilizem os investimentos e a industrialização do invento.
“É muito gratificante ver os resultados das pesquisas nas universidades e instituições de ensino e pesquisa gerando benefícios para a sociedade”, afirmou Keciane Mesquita. Às novas gerações de pesquisadores, ela destaca a importância de se traçarem metas claras e que acreditem nos seus objetivos, pois a organização das ideias e o esforço conseguem motivar as parcerias e gerar resultados de inovação no Brasil, país que “sempre foi destaque por sua criatividade e sua habilidade de fazer acontecer”. No contexto do IFMA, a docente propõe uma ampliação da discussão sobre o fortalecimento de uma política de geração de patentes na instituição. Segundo ela, esse debate contribui para que cada vez mais as novas gerações de pesquisadores se conscientizem da necessidade de transferir à sociedade os resultados da pesquisa acadêmica, e geração de inovações, que poderão impactar de forma positiva no cotidiano das pessoas.
Assessoria de Comunicação do Conif
Texto: Ascom IFMA