Aplicativo facilita escrita e disponibilização de textos criados por pessoas cegas

Facilitar o compartilhamento de textos, como artigos, livros, reportagens e pesquisas produzidas por pessoas cegas, é o objetivo do projeto “Eletrônica e inclusão: Conver-Braille”, desenvolvido por Alexia Cristina, técnica em Eletroeletrônica pelo campus Contagem do CEFET-MG. A pesquisa teve orientação do professor Nelson Estevão e busca criar uma tecnologia assistiva capaz de converter a escrita braille para o nosso sistema de escrita tradicional.


A estudante criou um aplicativo para celular que simula a escrita em braille. “As celas braille estão distribuídas na face da tela, com alguns botões auxiliares responsáveis por criar novos documentos (onde os textos serão salvos), corrigir algum caractere ou termo, reproduzir o texto escrito ou até utilizar a função de reconhecimento de voz”, explica Alexia. “O intuito é que o usuário se acostume com o posicionamento dos botões e das celas para que possa utilizar o aplicativo bem habituado ao sistema, sem dificuldades”. Ao criar o texto, o usuário pode salvá-lo como um arquivo “.txt” e compartilhá-lo facilmente na internet.


O aplicativo já pode ser utilizado, mas, segundo Alexia, ainda necessita de algumas melhorias. “É necessário apenas alguns ajustes estéticos e a inclusão de alguns comandos que o torne ainda mais acessível”, conta a estudante, que pretende continuar o desenvolvimento do projeto.


Uma das principais mudanças previstas é a produção de um hardware, que simula a punção e a reglete, instrumentos usados tradicionalmente na escrita braille. “Um dos objetivos para o futuro é produzir uma placa contendo os furos correspondentes aos botões e celas braille do aplicativo, que, posicionada na tela do celular, seria executada com uma ‘caneta’ específica, semelhante à punção e à reglete”, explica. “Dessa forma, o aplicativo poderá ser utilizado de modo análogo ao processo de escrita em braille, no qual os usuários realizam leves pressões no papel produzindo relevos”.


Alexia afirma que a principal vantagem do app é facilitar a vida profissional de pessoas cegas: “Durante minha pesquisa, eu conheci diversos projetos que convertem a nossa linguagem usual de escrita para o braille, mas poucos foram aqueles que fazem o contrário. Por isso, o desenvolvi, para que os deficientes visuais possam escrever e publicar seus artigos, livros, reportagens, pesquisas e outros documentos. Trata-se de um recurso capaz de fornecer uma assistência palpável e acessível e, consequentemente, incentivar os trabalhos dos pesquisadores e estudantes que fazem parte dessa comunidade”.


O professor Nelson Estevão concorda, afirmando que o “Conver-Braille” possibilita ações efetivas de inclusão, por meio “produção de um meio de publicação digital para estudos e pesquisas realizadas pelos cegos e ampliação das oportunidades profissionais das pessoas com capacidade visual comprometida”. Para Nelson, a tecnologia deve estar sempre trabalhando para auxiliar as pessoas: “As tecnologias proporcionadas pela eletroeletrônica servem como ferramentas para trazer e ampliar as oportunidades profissionais e de qualidade de vida, mas o principal objetivo sempre deve ser ressaltar e valorizar a pessoa, independentemente de sua condição física”.


De acordo com Alexia, o olhar para o outro deve pautar a produção de novas tecnologias. “Acredito que a eletroeletrônica pode estar presente em inúmeros âmbitos da sociedade, então por que não usá-la para auxiliar na inclusão de pessoas com deficiência?”, questiona. “Para mim, essa relação parte de um olhar voltado para essas comunidades e para questões sociais”.


Como funciona o braille?


O braille é um sistema de escrita e leitura tátil, em alto relevo, usado por pessoas cegas ou com baixa visão. Foi criado em 1824 pelo francês Louis Braille e introduzido oficialmente no Brasil em 1854.


Cada caractere do sistema é formado por seis pontos, posicionados em duas fileiras. Esses pontos podem criar até 63 variações.


A escrita em Braille é feita por máquinas de escrever específicas, por programas de computador, ou utilizando dois instrumentos: reglete e punção. A reglete é uma régua com janelas posicionadas no lugar das celas do código Braille. O usuário usa a punção, material semelhante a um estilete, para fazer os pontos.