Pesquisa traça um panorama das patentes depositadas no Brasil

Cerca de 28 mil registros de novas patentes são publicados anualmente no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). Invenções criadas por pesquisadores, instituições e empresas que dão um vislumbre sobre como a ciência e tecnologia do país estão se desenvolvendo.


Quantas dessas invenções vêm das universidades e instituições de ensino brasileiras? Quais são as áreas do conhecimento mais representativas? Qual o perfil de inventores que mais contribuem para o desenvolvimento tecnológico?


Essas perguntas buscaram ser respondidas por Raulivan Rodrigo da Silva, em pesquisa desenvolvida durante o mestrado em Modelagem Matemática e Computacional no CEFET-MG. Ela deu origem à dissertação “Coleta e tratamento de dados sobre a produção técnica brasileira: um estudo baseado em patentes”, com orientação do professor Thiago Magela, defendida em março de 2022.


O estudo das patentes pode oferecer um rico panorama sobre a produção científica no Brasil, mas a área é pouco explorada. A pesquisa surgiu justamente dessa percepção: em conversa com seu orientador, Raulivan discutia o grande volume de trabalhos bibliométricos existente. A bibliometria é uma área que usa de métodos estatísticos e matemáticos para analisar a produção do conhecimento científico ou da comunicação escrita. Nesse campo de estudos, relata o mestre em Modelagem Matemática, os trabalhos que analisam a produção técnica e, especificamente, os documentos de patentes estão em menor quantidade.


Raulivan se debruçou sobre as patentes em três etapas: “A primeira, foi a coleta dos dados de patentes que são públicos e disponibilizados pelo INPI”, explica. “Como o INPI não disponibiliza uma interface para download dos dados, foi necessário implementar um web scraper, assim, pesquisando todas as patentes depositadas e coletando todas as informações disponibilizadas”. Na segunda fase, os pesquisadores identificaram as patentes coletadas no INPI na base de dados internacional de patentes EspaceNET. “Para viabilizar o processo foi desenvolvido um algoritmo utilizando a linguagem de programação Python”, detalha. Por fim, foi feita uma coleta dos currículos cadastrados na Plataforma Lattes, que possui informações de depósito de patentes. Essa coleta foi feita pela ferramenta LattesDataExplorer, desenvolvida pelo professor Thiago Magela.


A partir disso, o pesquisador fez uso de uma série de técnicas para analisar os dados coletados, como mineração de textos e algoritmos de processamento de linguagem natural. Foram, então, levantados indicadores quantitativos que caracterizam a produção técnica brasileira, como a evolução temporal, áreas do conhecimento que mais depositam patentes, maiores depositantes e instituições de ensino superior que mais depositam patentes.


Ao final do processo, Raulivan pode perceber uma série de conclusões sobre as patentes brasileiras (confira os gráficos). Na dissertação, ele destaca, por exemplo, o crescimento contínuo no número de depósitos entre os anos de 1992 a 2012, o que ele considera como um período de grande desenvolvimento tecnológico. Só em 2012, foram 38.314 patentes depositadas. A maior parte das patentes (25,74%) está ligada à área “Necessidades humanas”, que inclui as áreas da agricultura, silvicultura, pecuária, caça, captura em armadilhas e pesca, que, como lembra o pesquisador, vão ao encontro do panorama da economia brasileira, com grande participação do setor agrícola.


A pesquisa também mostra que as maiores depositantes de patentes no Brasil são empresas internacionais, que buscam proteger suas invenções também no país. Já entre as instituições de ensino, Unicamp, USP e UFMG se destacam como produtoras de inovação. Em um contexto geográfico, as maiores IES depositantes de patentes são da região Sudeste, mas se observa um crescimento da região Nordeste, que ocupou o primeiro lugar das patentes das IES entre os anos de 2018 a 2020.


“Estudar o desenvolvimento tecnológico, por meio de documentos de patentes, é uma excelente estratégia. Por se tratar de uma área pouco explorada no Brasil, existem diversos estudos que podem ser realizados, o que me motivou bastante a seguir minhas pesquisas nesta área”, conclui Raulivan.


Assessoria de Comunicação do Conif

Texto: Ascom Cefet/MG