Comunidades indígenas encontram na Rede Federal oportunidades

Por volta de 1970, durante a construção da transamazônica, seus operários e demais envolvidos no projeto tiveram os primeiros contatos com diversas etnias indígenas até então desconhecidas. Entre esses povos tradicionais estavam os Parakanã, que residem em uma aldeia entre os rios Tocantins e Xingu, no estado do Pará. Tal encontro mudou profundamente o modo de vida dos indígenas da região.


Quase cinquenta anos depois, uma nova descoberta mexeu com a comunidade: a Educação Profissional, Científica e Tecnológica pública, gratuita e de qualidade, por meio do Instituto Federal do Pará (IFPA). A Rede Federal entrou na história da comunidade por meio do Herley Tarana. Ele é o primeiro indígena de sua aldeia a ingressar em uma instituição federal de educação.


O caminho até o IFPA não foi fácil. O Parakanã fez o ensino fundamental e médio em uma vila próxima a sua aldeia. A escola ficava a 8 quilômetros (km) de sua aldeia e ele fazia o trajeto sob sol ou chuva, em alguns trechos a pé, de ônibus ou carro. A estrada também não era das melhores e, em vários trechos, sequer havia pavimentação. “Foi meu pai quem me levou para a escola e conseguiu uma vaga para mim. Meu povo nunca teve a chance de estudar. Não tínhamos essa oportunidade”, relata Tarana.


O indígena fez um relato emocionante ao portal do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif) sobre sua trajetória acadêmica. A entrevista marca o Dia nacional dos Povos Indígenas, celebrado nesta terça-feira (19/4), e tem o propósito de mostrar à sociedade como as instituições da Rede Federal mudam positivamente a vida de muitos brasileiros por meio da interiorização das instituições públicas federais e dos auxílios estudantis.


Herley Tarana é discente do campus Marabá Rural, onde cursa Educação do Campo. A instituição fica, em média, à 150 km de sua casa, na aldeia Parakanã, e à 550 km de Belém, a capital do Pará. Devido às grandes dimensões, o ingresso do estudante no IFPA só foi possível graças as políticas de auxilio estudantil. “As pessoas da Funai [Fundação Nacional do Índio] me falaram de uma instituição federal na qual eu poderia dar sequência aos meus estudos sem pagar casa ou alimento. Eu não tinha conhecimento de nada e pensava que esse tipo de coisa não existiria para mim”, conta.


A oportunidade chegou até Tarana e ele aproveitou. Como na aldeia onde reside não tem internet o jovem precisou recorrer à vila onde ficava sua antiga escola para conseguir participar do processo seletivo para estudar no IFPA, que na ocasião foi totalmente online. No dia 30 de janeiro de 2022 as aulas de Herley Tarana começaram. 


Para chegar até o campus em Marabá, o indígena contou com a ajuda de antigos professores e servidores dao IFPA que foram guiando-o até conseguir se instalar. “Eu conversava com as pessoas e falava que era índio. Que eu sou o primeiro Parakanã a estudar no IFPA. Eu estava tímido e achava que não iria me acostumar”, diz.


O contato com a instituição começou a render frutos para o estudante, que já faz planos para o futuro. “O IFPA mudou totalmente minha visão de mundo. É um lugar que abraça todas as etnias, os quilombolas e os ribeirinhos. Eu só penso em como vou conseguir ajudar meu povo com o que eu estou aprendendo”, afirma Herley Tarana.


“Vim atrás de conhecimento para aprimorar a vida do meu povo e correr atrás dos nossos direitos. Por isso, quando terminar meus estudos, eu quero voltar para minha aldeia. Eu não quero viver na cidade. Meu sonho é ficar na minha aldeia e ajudar meu povo”, completa.


Políticas públicas


Esse é um dos vários exemplos de como a Rede Federal age para que as políticas públicas cheguem a crianças, jovens e adultos do interior do País. Observando a história do Herley Tarana, o presidente do Conif, Claudio Alex Jorge da Rocha, chama a atenção para o papel exercido pelas instituições da Rede Federal, ao ofertarem oportunidades de inclusão e formação cidadã, de caráter inclusivo para as muitas comunidades.


De acordo com a Plataforma Nilo Peçanha, menos de um por cento dos mais de um milhão e meio de estudantes da Rede Federal, em todo o Brasil, se autodeclaram como indígenas.  Em 2021 eram 0,54% dos declarados. Em números absolutos são 6.199 matrículas, sendo que 69,47% dos estudantes tem renda familiar inferior a 1 salário. Dados como esses evidenciam a importância de ações positivas que garantam a permanência e o êxito desses estudantes nas instituições.


“Além de fazer referências e comemorar, o dia 19 de abril deve ser mais uma oportunidade de conclamar a sociedade para discutir os temas que envolvem essas comunidades. Temos que combater o desmatamento, a atuação irregular dos garimpos nas terras indígenas e lutar por recursos que protegem e dão sustentação aos povos indígenas”, conclui Claudio Alex, que também é reitor do IFPA.


Assessoria de Comunicação do Conif

Texto: Marcus Fogaça

Foto: ​Ascom/IFPA