Vestígios arqueológicos e iconográficos permitem afirmar que o ato de jogar acompanha o ser humano desde os primórdios e se relaciona com o desenvolvimento da cultura, da espiritualidade e das relações humanas. E que tal desfrutar de jogos de tabuleiro egípcios, romanos, indianos, asiáticos ou africanos disputados na antiguidade, com dimensões filosóficas, morais, espirituais, numa ponte entre passado, presente e futuro? Agora é possível !!!!
“Tabuleiros do mundo: um guia prático dos jogos ancestrais”. Este é o título da obra lançada, na sexta-feira (12), no auditório Jornalista Maycon Rangel, na Reitoria em São Luís, por João Batista Corrêa – pesquisador e palestrante na área de jogos e professor de Educação Física, há 8 anos, do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), com lotação atual no Campus São José de Ribamar. Para adquirir, acesse aqui - ou neste outro link.
Com selo da paulista Editora Supimpa e 196 páginas, o livro “Tabuleiros do mundo: um guia prático dos jogos ancestrais”, é uma obra inédita que revela como os jogos de tabuleiros elaborados ao longo da história da civilização podem transformar o ambiente escolar em um espaço de cooperação estratégica e encantamento. “Há almanaques de jogos antigos, mas com essa proposta pedagógica, de metodologia ativa, da aprendizagem baseada em jogos, é inédita a nossa obra, pois há dicas lúdicas para o professor executar esses jogos na sala de aula”, destacou o autor.
Ao explorar jogos da África, Américas, Ásia, Europa e Oceania, o leitor descobre um patrimônio cultural vivo, repleto de significados históricos e potencial pedagógico. A obra apresenta a descrição de jogos, com regras e tabuleiros prontos para impressão, propostas de uso interdisciplinar, adaptações para estudantes com deficiência, modelos sustentáveis com materiais recicláveis e o relato de projeto pedagógico aplicado no campus Ribamar. O livro advém do projeto de extensão e de pesquisa Tabuleiros do Mundo desenvolvido pelo autor no campus. Atualmente o projeto conta com 14 estudantes voluntários e já contou com 25 alunos em sua trajetória.
“Há dois anos estamos elaborando e fazendo curadoria de alguns jogos antigos e catalogamos mais de 300 e apresentamos cerca de 58 jogos no livro”, informou o professor João Batista Corrêa.
No campo pedagógico, o autor articula os jogos à metacognição, à resolução de problemas, às habilidades socioemocionais e à interdisciplinaridade, dialogando com as áreas de Linguagens, Matemática, História, Geografia e Educação Física. Também relaciona a temática às leis 10.639/2003 e 11.645/2008, valorizando as culturas africana, afro-brasileira e indígena. Os jogos, em sua maioria, podem ser aplicados a partir dos 7 anos de idade até o Ensino Médio, e a escolha foi por aqueles que valorizam a lógica e o raciocínio estratégico. Eles também podem ser transformados em jogos humanos, em que os estudantes representam as peças.
Ao final do livro, o leitor tem acesso, por meio de QRCode, aos tabuleiros dos jogos em versão tamanho A4 (modelo print and play) que podem ser impressos.
Dentre os jogos mais antigos catalogados pelo pesquisador encontram-se o Senet egípicio (encontrado em tumbas reais como a de Tutancâmon e que simbolizava a travessia espiritual) e o Jogo Real de Ur mesopotâmico (utilizado por nobres e plebeus).
“São jogos com mais de dois mil anos antes de Cristo e temos até dificuldade de fazer a análise das regras, porque tem pouquíssimos dados”, destacou o professor. “Mas também tem jogos mais contemporâneos de uns mil anos, de 500 anos atrás, e que permanecem até hoje na cultura de um povo”, prosseguiu. De acordo com o professor, o livro apresenta jogos ancestrais africanos que até hoje são utilizados no continente. “Alguns eram jogados na terra, cavados no chão, e hoje você vê já o tabuleiro de madeira e outros materiais e, inclusive, no livro, pregamos muito a questão da sustentabilidade, de trabalhar com materiais recicláveis ou de baixo custo”, pontuou.
Um dos jogos que tem obtido boa aceitação entre estudantes e professores também vem da África. “Existe um jogo chamado Mancala, que na verdade é uma família de jogos, com mancala circulares, mancala maiores, menores e eu percebo que eles gostam muito”, destacou. “A Mancala é um jogo de semeadura em que se precisa ter uma perspicácia muito grande para fazer a contagem das peças, trabalha muito o cálculo mental dos jogadores e percebo que é muito bem quista pelos alunos”, assinalou.
Noite de autógrafos
Durante o lançamento do livro, os estudantes do projeto de extensão apresentaram alguns jogos aos visitantes. Maria Angela Alves, do 2º do curso Informática para a Internet, do Campus São José de Ribamar, falou sobre o europeu Petteia, o aisático Xi Gua Qi e os africanos Achi e Borboleta – jogos sem similar na atualidade. “É uma experiência maravilhosa, a gente pensa que é difícil mas é muito bom quando se está aprendendo, jogando e ensinando”, avaliou.
Daniel de Jesus, 18, também do curso de Informática para Internet, apresentou o jogo europeu Tabla Lusória, provavelmente jogado no Império Romano. “Ele foi encontrado através de pesquisas arqueológicas em determinadas áreas e foi visto que em determinadas superfícies como pedras ou áreas rochosas tinha gravuras de algo que parecia um jogo, então eles foram atrás e encontraram as regras escritas à mão em outras superfícies”, explicou. “É jogo muito simples que possui várias possibilidades e variâncias e, como hoje está tudo mais tecnológico, para chegar nesse nível de simplicidade, mas com uma profundidade tremenda, teria que ser algo muito inovador”, apontou.
“Jogar esses jogos é fazer uma alusão histórica, ver as ancestralidades, trabalhar o conceito de culturas antigas, de pessoas e civilizações num tempo muito remoto, onde não tinha tanta tecnologia e eles conseguiam fazer um jogo com tantas possibilidades cognitivas para aperfeiçoar as habilidades”, avaliou o estudante Daniel de Jesus.
O evento de lançamento contou com a presença de estudantes, professores, amigos, familiares e colegas de trabalho. A atração cultural foi por conta da banda Musicampus, composta por 15 estudantes do Campus São José de Ribamar que já conta com 03 anos de existência. Durante o evento também foi realizado sorteio de jogos ancestrais.
Sobre o autor
João Batista Corrêa é professor do IFMA Campus São José de Ribamar. Mestre em Ciência da Motricidade Humana, especialista em Docência do Ensino Superior; em Escola, Família e Sociedade; e Educação Física Escolar. Graduado em Educação Física (UFMA). Membro da Federação Internacional de Educação Física e Esporte e da Rede Integrada de Professores de Educação Física do IFMA . Exerceu o magistério superior em modalidades esportivas coletivas, futsal, voleibol, basquetebol, handebol, recreação e lazer, educação física infantil, ética e atuação profissional. Desenvolve trabalhos nas áreas de metodologias ativas, metacognição e jogos.
Diretoria de Comunicação do Conif
Texto: Cláudio Moraes/IFMA
Foto: Mônica Maneide e Cláudio Moraes/IFMA