A expressão popular “é pra acabar com os pequis do Goiás” pode deixar de ser uma brincadeira e se tornar uma preocupação real, ao menos na região Oeste do Estado. Pesquisa realizada no Instituto Federal Goiano (IF Goiano) – Campus Iporá mostrou, ao longo de dois anos de acompanhamento, que o pequi (Caryocar brasiliense) plantado tanto em área de pastagem quanto de reserva não apresentou germinação e nem rebrotas.
Possivelmente, a população dessa espécie precisa de mais tempo para a formação de novas plantas, mas o extrativismo – ou seja, a coleta para a alimentação - não deixa sementes suficientes no ambiente para que isso ocorra. “Com a retirada constante, o longo período que as sementes levam para germinar e o avanço da soja substituindo as pastagens - local onde grande parte da população ainda é encontrada - ao longo do tempo o pequi tende a desaparecer da região”, explica a bióloga Vânia Sardinha dos Santos Diniz, coordenadora do estudo.
A pesquisadora, que é doutora em Ecologia e Evolução, vai além: o que foi observado na região de Iporá pode se estender por todo o estado de Goiás. “Combinando trabalhos de outros autores com os nossos resultados, podemos dizer que não apenas o pequi, mas várias outras espécies nativas do Cerrado, tendem a desaparecer ao longo do tempo”, alerta.
De acordo com o estudo, na área de reserva, observou-se maior número de plantas jovens que na de pastagem. Porém, com crescimento mais lento e menor quantidade de frutos por planta. Esse fato pode ser explicado pelo adensamento de espécies no local e o consequente sombreamento.
“Isso indica que, na reserva, aos poucos as plantas jovens poderão substituir as mais velhas que irão morrendo com o tempo”, justifica. Já na pastagem, embora o pequi tenha apresentado maior crescimento e mais frutos, não houve rebrota ou muda, o que gera preocupação.
Solução - Para evitar que isso ocorra, a professora lembra da importância da conservação do Cerrado, preservando suas áreas de reserva. Ela também aposta na implantação de novas áreas de plantio, mesmo que sejam consorciadas com a pastagem - desde que o manejo seja correto na fase inicial de crescimento. “Tivemos resultados positivos com o plantio de sementes diretamente em campo ao invés de produzir as mudas e transplantar”, revela a pesquisadora.
Segundo Vânia, após um ano de plantio das sementes, 60% das plantas sobreviveram, sem adubação, correção do solo, uso de herbicidas ou agrotóxicos. “Fizemos apenas o controle das formigas e a capina manual das plantas daninhas e da braquiária em torno das plantas. Algumas mudas foram atacadas por lagartas, mas elas rebrotaram, tanto o caule, quanto as folhas”, explica.
O fundamental, conforme a pesquisadora, é controlar o crescimento de outras plantas, para que não haja sombreamento das mudas. “Principalmente a braquiária, que realiza forte competição por recursos com as espécies nativas”, especifica. É necessário, ainda, fazer o controle de formigas cortadeiras, pois elas prejudicam o crescimento e aumentam a mortalidade da espécie em áreas de plantio.
Baru - O estudo da professora Vânia iniciou em 2019 e foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). Subdividido em dois subprojetos, também observou a estrutura populacional do baru (Dipteryx alata), contudo os resultados não foram tão preocupantes quanto os do pequi.
Isso porque possivelmente o extrativismo do baru ainda não é tão intenso e a espécie conseguiu se reproduzir bem tanto em área de pastagem quanto na reserva legal, além das taxas de germinação das sementes serem maiores. O projeto contou com Bárbara Miranda Borges e Nandara Carolina Barbosa Bastos, bolsistas de Iniciação Científica e estudantes do curso de Agronomia do Campus Iporá. Sob a orientação da professora, ambas conduziram os experimentos em campo.
Diretoria de Comunicação Social
Texto: Juliana Luiza